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Festivais

12o Bafici (2010) – dia 5

Choque cultural em filme colombiano

Por Luiz Joaquim | 14.04.2010 (quarta-feira)

É comum um filme que possui trama política (ou ao menos engajamento social) cair no ranço militante. É algo que pode transformar determinada obra num tipo de libelo facilmente descartável ou, talvez ainda pior, ter a força discursiva da reflexão proposta esvaída. No caso do colombiano “El vuelco del cangrejo” (2009), essa preocupação parece obliterada por vontade autêntica de discutir as contradições políticas do espaço onde a narrativa se passa.

A obra trata das tensões sociais provocadas a partir do choque entre culturas diferentes, narrando o avanço inevitável do progresso sobre terra antiga. A identidade de La Barra, pequena comunidade negra do litoral colombiano que o filme nos mostra fora dos códigos de curiosidade étnica, mas como construção cultural natural, entra em desarranjo com a chegada de homem branco, Paisa. Ele quer construir hotel com TV e comidas chiques para proporcionar um tipo de comodismo urbano que não parece fazer sentido no lugar.

Para ficcionalizar esse subtexto de certa forma político, o diretor Oscar Ruiz Navia criou a história de Daniel, mochileiro colombiano sem passado aparente que chega não se sabe bem de onde ou por qual motivo e vai para local não informado. Esse personagem misterioso reproduz o olhar estrangeiro do espectador nessa terra desconhecida.

O filme usou pessoas que já moravam naquela comunidade como atores. Em conversa depois da projeção, Oscar disse que as atuações naturalistas que vemos surgiram de encenação prévia, o que sugere uma obra de fronteira entre o registro documental e a coreografia do “real”.

A certa altura, o homem branco ergue uma barreira que separa uma parte da praia do resto do terreno, sinalizando os limites de seu hotel. É momento que parece registrar a gênese da interdição humana sobre espaço que não possui dono. Nesse sentido, a imagem final possui carga de revolta social e de respeito à identidade cultural que poucas vezes é reconhecida no cinema.

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