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Festivais

14º Cine-PE (2010) noite 2 (cobertura)

Atitude com uma câmera e uma Kombi

Por Luiz Joaquim | 29.04.2010 (quinta-feira)

O primeiro longa-metragem em competição do 14º Cine-PE: Festival do Audiovisual, exibido terça-feira à noite no Cineteatro Guararapes, iniciou suscitando uma boa reflexão. “Cinema de Guerrilha”, de Evaldo Mocarzel, acompanha, do início ao fim, um grupo de três rapazes e uma jovem da periferia paulista que leciona audiovisual naquela localidade. A sugestão de reflexão saiu da própria boca de um dos personagens, em entrevista a Mocarzel gravada dentro de uma Kombi em movimento: “O sistema deu o pé para a periferia se expressar e a gente soube aproveitar, mas eles não instrumentalizaram a gente. Aprendemos sozinhos”.

A frase é uma resposta para a aparente questão que levou Mocarzel a realizar este filme, ou seja: o que a periferia acha do “sistema” tomar a periferia como astro da vez e sugar deles o que lhes interessa, sem deixar benefícios ali?

Curioso que a própria postura do filme “Cinema de Guerrilha” parece reafirmar essa usurpação. O documentário não destrincha um suposto rico cenário criativo audiovisual em efervescência na periferia, apenas tira um instantâneo de quatro professores e as ideias de seus jovens estudantes. Lembra, em certa medida, os vídeos institucionais de festivais de cinema no Brasil, que ao final da mostra, projeta o making of da oficina de vídeo promovida pelo evento.

Em seus discursos, os personagens/professores de Mocarzel parecem querer deixar claro que não querem ser tomados como vítimas. Entretanto, num momento do documentário, o filme nos dá uma rodada de falas, mostrada em lógica de construção narrativa sentimentalizada, que expõem o sofrimento de vida pelo qual seus personagens passaram.

É um filme que tem apenas 15 segundos (os finais) de silêncio, contra 72 minutos de falas juvenis, algumas desarticuladas, sobre justiça e injustiça social. Mais da metade é dita pra uma câmera numa Kombi em movimento, o que pode gerar dor de cabeça em alguém na platéia. Algumas destas falas nem precisam da imagem oferecida por Mocarzel para serem compreendidas. Mesmo de olhos fechados e ouvidos abertos, o espectador pode entender em sua plenitude o que os personagens têm a dizer.

Logo após “Cinema de Guerrilha”, a ficção brasiliense “O Homem Mau Domer Bem”, de Geraldo Moraes, exibiu para uma sala mais esvaziada. Já a grade de curtas foi acompanhada com entusiasmo pelo público. O destaque ficou claramente para a animação paulista “O Divino, De Repente”, de Fábio Yamaji. Utilizando diversas técnicas artesanais de animação, o filme nos apresenta Divino, o personagem real Ubiraci Crispim, uma figura que gera empatia imediata ao cuspir repentes em velocidade enquanto Yamaji as ilustra lindamente. “O Divino, De Repente” oferece tanta informação visual simultânea que é obrigatório uma segunda e terceira revisão para melhor usufruí-lo.

Outra animação, do carioca Marão, “Eu Queria Ser um Monstro” (mais modesta mas também tocante) ganhou a platéia. Feito em stop motion com epox, acompanha o cotidiano de um menino que engana a mãe no banho e adora ler gibi. Seu sonho é ser um monstro, até o momento em que aprende a admirar seu próprio pai. Também projetou o pernambucano “Corpo Urb”, de Virginia Correia, e o brasiliense “Senhoras”, de Adriana Vasconcelos.

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