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Reportagens

O País do Desejo – filmagens

Num horizonte impressionista

Por Luiz Joaquim | 24.05.2010 (segunda-feira)

Há a possibilidade de que, neste momento, enquanto você lê estas linhas (se você as lê no dia 24 de maio de 2010), Maria Padilha esteja desmaiando (provavelmente por mais de uma vez) no palco do Teatro de Santa Isabel. É que, dentro do cronograma de filmagens de “O País do Desejo” – novo e quarto longa-metragem de Paulo Caldas -, hoje (24/05) deve ser rodada a sequência em que a atriz, interpretando uma pianista mineira, passa mal durante sua apresentação na fictícia cidade de Passárgada.

Com mais de 60% das imagens já captados, e planos para encerrar as filmagens até 1° de junho, “O País do Desejo” (projeto antes conhecido com “Amor Sujo”) vai apresentar os conflitos do padre José (Fábio Assunção) que se apaixona por Roberta (Padilha). Eles se conheceram na clínica médica de seu irmão César (Gabriel Braga Nunes) com seu pai Dr. Orlando (Germano Haiut), onde ela precisa fazer um transplante de rins. Romances a parte, o pároco José, da vizinha e também fictícia comunidade de Eldorado, ainda vive outros dramas morais, como um confronto com o lado mais ortodoxo da igreja por defender o que ele acredita ser o correto num contexto legalmente criminoso.

Num roteiro escrito a seis mãos, junto a Pedro Severien e Amin Stepple, Caldas explica a mudança de seu título como algo natural, uma vez que aspectos próprios da atmosfera cinematográfica vêm dominando cada vez mais as filmagens, fazendo o resultado se desvincular do real. “Passárgada e Eldorado são homenagens diretas e Manuel Bandeira e a Glauber Rocha. Meu filme anterior [“Deserto Feliz”, 2007] era muito apegado a realidade, e agora eu pergunto ‘como seria este país do desejo’?” , comenta o cineasta.

Parte dessa “atmofera cinematrográfica” deverá ficar bastante destacada por uma narrativa clássica e planos mais contemplativos, fixos ou em movimentos suaves. Captadas no formato cinemascope, as imagens feitas pelo diretor de fotografia Paulo Jacinto (Feijão) buscam referência nas pinturas impressionistas de Auguste Renoir (1841-1919). “O scope permite a gente isolar personagens em espaços dentro do quadro e dar mais possibilidades aos atores, entre outras coisas”, adianta Feijão.

Na mesma sintonia está a direção de arte de Karen Araújo e o figurino de Bárbara Cunha (companheira e parceira de Caldas na empresa 99 Produções). Karen explica que, por cada enquadramento parecer verdadeiras pinturas, não há uma preocupação em ocupar a cena com elementos que o remetam ao real. “Mas algumas locações eram cenários prontos, como o Hospital Alfa, em Boa Viagem, onde Roberta faz o transplante”, diz.

Já Bárbara recorda que preferiu esperar as definições das locações, como a do Engenho São Francisco – após o Terminal Rodoviário Integrado de Passageiros do Recife (TIP) – onde a equipe recebeu a equipe da Folha de Pernambuco na quinta-feira, e da direção de arte para entender a palheta de cores que iria dispor. “Nosso trabalho foi o de reforçar o perfil dos personagens pelo figurino, tentando parecer atemporal, pois a moda é cíclica. Só em alguns casos temos figurinos fabulosos, como o vestido que Roberta usa quando desmaia no Santa Isabel. A peça foi criada pelo estilista Melk Z-Da”, revela.

PRODUÇÂO
Além da Fábio Assunção, Maria Padilha, Braga Nunes e Haiut, o elenco ainda traz Lívia Falcão, Fernanda Viana, Juliana Kametani, Conceição Camarotti, Jones Melo, Fabiana Pirro e Nash Laila (protagonista de “Deserto Feliz”). Há ainda a presença do popular ator lusitano Nicolau Breyner que, nas palavras da produtora Samantha Capideville, é uma espécie de “Tarcísio Meira de Portugal”. Breyner chegou sexta-feira da Europa para viver o arcebispo a quem o Pe. José confronta.

A presença de Breyner está vinculada a participação da portuguesa Fado Filmes, co-produtora de “O País do Desejo” ao lado da 99 e da Bananeira Filmes (atualmente também produzindo “Palhaços”, novo longa de Selton Mello). Pela Fado, também estão na equipe do filme o assistente de produção, o microfonista, e o técnico de som Vasco Pedroso, que conheceu Caldas no set de “Estorvo” (1999), de Ruy Guerra.

Samantha conta que o projeto de “O País…” já vem sendo desenvolvido desde 2002 e que o orçamento do filme seria de R$ 6 milhões, “mas estamos conseguindo tocar com um valor de produção de R$ 2,5 milhões, o que é um milagre para o padrão de qualidade do filme”, explica.

Mas, na manhã da quinta-feira, horas antes de conceder esta entrevista, a produtora já tinha recebido duas boas notícias. Uma dizia respeito à contemplação de R$ 240 mil naquele dia pela segunda etapa do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura/Audiovisual). “Isso já garante nosso montagem com tranquilidade”, suspirava a produtora.

A outra boa nova veio por uma ligação de sua colega da Bananeira, Vânia Catani, que estava no Festival de Cannes naquele dia. De lá, Catani segredou uma novidade que Samantha não podia falar. Mas quando perguntamos se o próximo Festival de Berlim (fevereiro de 2011) seria um alvo para o lançamento de “O País do Desejo”, ela retrucou: “Quem sabe o próximo Cannes?”. Torçamos, então.

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