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Críticas

Doce Brasil Holandês

Redesenhando o retrato de um mito

Por Luiz Joaquim | 13.08.2010 (sexta-feira)

Para o recifense que assiste a “Doce Brasil Holandês” (Bra., 2010), média-metragem de 52 minutos realizado por Mônica Schmiedt (em cartaz no Cinema da Fundação), um das primeiras impressões a chamar a atenção ali é a da beleza do Recife, resgatada pelo olhar apurado da diretora gaúcha, sob os cuidados técnicos da fotografia de Sylvestre Campe.

Numa simbiose entre a perspectiva de Mônica e a de uma de suas personagens, a alemã historiadora da arte Sabrina Van Der Ley, o filme segue a indagação de um estrangeiro (como ambas são) que chega por aqui e quer entender o porquê da ideia de que se tivéssemos permanecido sob o domínio dos holandeses – invasores no século 17 – hoje seríamos uma nação melhor.

Na verdade, Mônica recorta seu foco histórico sobre a figura e o legado de Maurício de Nassau, que transformou a arquitetura do Recife e a imagem do Brasil no exterior a partir dos registros iconográficos feitos por Franz Post e Albert Eckhout. Mônica soube aproveitar bem estas pinturas. Há espaço, por exemplo, para uma brincadeira com os tipos humanos retratados por Eckhout, a partir dos quais a diretora buscou relativos nos dias de hoje na desorganizada urbe recifense.

E ainda por, por meio de arte gráfica, “Doce Brasil…” sobrepõe imagens panorâmicas do século 17 de Post contra imagens atuais, exatamente na mesma perspectiva, nos dando uma dimensão imediata das transformações pela qual passou a Maurícia vila holandesa para o que é o Recife hoje.

Intercalando-se a isto, estão os depoimentos de craques locais da história e arquitetura como José Luiz Mota Menezes, Evaldo Cabral de Mello, Edson Nery da Fonseca e Daniel Breda, entre outros, que funcionam quase como uma resposta imediata à voz popular. Uma voz que insiste na ideia da primazia urbanística e nas artes de três séculos atrás feita pelos holandeses como o melhor para o Brasil ainda hoje. Breda, a propósito, nos convida a olhar como estão as atuais colônias holandesas (com seus fortes problemas de preconceito racial) e compará-las com o que se tornou o Brasil.

Enquanto o documentário corre nesse formato, digamos, mais tradicional, Mônica o leva também numa outra via mais leve que é a do confronto, ou melhor dizendo, a da promoção do encontro entre Sabrina Van Der Ley e a jovem historiadora pernambucana Kalina Vanderlei. Separadas por um oceano e unidas pelo sobrenome e o interesse pela história, as duas passeiam pelo Recife repensando o legado de Nassau na nossa arquitetura e desenho urbano.

Levado por uma mistura da música nordestina tradicional (Dominguinhos, Luiz Gonzaga, Geraldo Azevedo) e contemporânea – mas não nordestina e sim feita no Nordeste – (DJ Dolores), “Doce Brasil Holandês” já chega como um filme necessário, ou como se fosse preciso existir desde sempre.

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