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Festivais

43o. Festival de Brasília (2010) – Lilian M

Brasília relembra a inteligência de Reichenbach

Por Luiz Joaquim | 25.11.2010 (quinta-feira)

Brasília (DF) – Todos sabem. O que há de emotivo e generoso no cineasta Carlos Reichenbach , ou apenas “Carlão”, consegue ser ainda maior que sua alta estatura. E não havia como ele disfarçar isso na homenagem que recebeu na abertura do 43º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Aconteceu na noite de terça-feira, num Teatro Nacional Cláudio Santoro, com todos os seus 1.350 lugares ocupados para assistir a cópia restaurada de “Lílian M: Relatório Confidencial”, de 1975.

No palco, ladeado por sua parceira Sara Silveira, pelo seu montador Inácio Araujo, e pelas atrizes Célia Olga Benvenutti (Lilian), Maracy Mello e Lygia Reichenbach (também esposa), Carlão lembrou de um episódio em 1976, quando saiu de São Paulo e dirigiu até o Rio de Janeiro, ao lado de Benvenutti, para receber o Coruja de Ouro – troféu mais importante do cinema brasileiro na época, concedido pelo extinto Instituto Nacional de Cinema.

Ele só foi porque um amigo tinha dito que Olga seria eleita a melhor atriz, mas na verdade houve uma confusão e o nome da vencedora era o de Lilian Lemmertz. 34 anos depois, aqui em Brasília, emocionado, Carlão pediu licensa e desculpas a Fernando Adolfo (curador deste Festival) para reparar uma injustiça, e repassou o Candango que tinha nas mãos para Benvenutti, que o recebeu sob lágrimas.

Com a visão debilitada em função de uma catarata nuclear, e a espera de uma cirurgia, Carlão ainda deu um susto na platéia quando tropeçou no degrau do palco. Esta mesma platéia o aplaudiu ao final da sessão, após rever a versão original ali exibida, com seus íntegros 120 minutos, diferene daquele com 25 minutos a menos cortado pela ditadura em 1975.

Rever “Lilian M” hoje só ressaltou o talento de Carlão diante das possibilidades cinematográficas que se podia realizar naquele momento considerando a repressão política. “Era uma época de metáforas”, lembrou na apresentação. Na entrevista coletiva de ontem, disse que curiosamente, o militares não cortaram as sequências de choques elétricos que um dos homens de Lilian, o industrial alemão Hartman, praticava nela. “Era uma clara alusão ao Boilesen, mas eles não entenderam nada”, recorda.

Repleto de humor sofisticado, como a impagável cena de um médico oferecendo cigarro a Lilian – “Fume, lhe deixará calma”; ou anda quando faz o ator Wilson Ribeiro recitar, em plena sauna, o discurso de Rui Barbosa na 2ª conferência de paz em Haia (1907), “Lilian M” mostra-se tão vigoroso, inventivo e audacioso quanto foi na época. O que, espera-se, combina com o espírito dos filmes em competição por aqui.

Ainda na entrevista, Carlão falou de seu próximo projeto: “Um Anjo Desarticulado”, cujo seu curta “Equilíbrio & Graça” (2002) pode, diz ele, ser visto como um rascunho. “Será um filme sobre o êxtase”, adianta o generoso Carlão.

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