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Festivais

O Recife de Marcelo

Filmagens de Era Uma Vez Verônica

Por Luiz Joaquim | 23.11.2010 (terça-feira)

Último domingo (dia 21), 22h, Bar Vapor 48, próximo ao Forte Cinco Pontas, no Recife. Tendo como pano de fundo uma serena vista do bairro do Pina banhada pelo encontro do rio Capibaribe com o mar está a cantora Karina Buhr num palco cercada por luzes coloridas. Apesar da estrutura de show, Karina canta baixinho ao microfone e mal se ouve sua voz, sem ninguém muito próximo para ouvi-la. Minutos depois, chega um grupo com cerca de 200 pessoas e aí sim, a cena ganha contornos de um show de verdade. A situação solitária da cantora era a preparação, captando áudio, para as filmagens de mais uma sequência do filme “Era Uma Vez Verônica”, título provisório do novo longa-metragem de Marcelo Gomes.

Com data para encerramento dia 30 de novembro (tendo iniciado 26 de outubro), as filmagens deste novo trabalho do cineasta vem sendo tocado como um congraçamento entre amigos. Os mesmo que se reuniram em 2004 para fazer o premiado “Cinema, Aspirinas e Urubus”. A começar pela Rec Produções que não só toca mais uma vez um novo projeto do diretor, como também repete a parceria com a paulista Dezenove Som e Imagens. Na equipe técnica, encontramos Mauro Pinheiro fotografando, Beto Normal no figurino e, em breve, Karen Harley montando.

Os protagonistas também são velhos amigos de Marcelo. A “Verônica” do título é vivida por Hermilla Guedes, e seu parceiro em cena é o baiano João Miguel. Ambos contracenaram em “…Aspirinas…” e formaram o par romântico de “O Céu de Suely” (2006). “João [Miguel] é um ator tão generoso, e trabalhar com ele é tão fácil que tudo sai muito verdadeiro na cena. Dá até medo da verdade que alcançamos em cena”, revela Hermilla enquanto sorri durante o intervalo para o jantar no set, à meia-noite.

João Miguel responde no mesmo tom e conta que seu personagem, Gustavo, é um engenheiro naval pernambucano em ascenção social, discreto, que conhece Verônica, uma estudante residente em psiquiatria. Com ela, ele se encanta por um prazer que o levará ao amor, enquanto que com ela acontece uma outra coisa. “O foco está em Verônica, e o Gustavo é uma espécie de testemunha da evolução do subjetivo dessa menina. Esse meu personagem vai se impregnando disso”, adianta.

Para o diretor, “Verônica”, o filme, está mais para uma crônica de uma personagem recifense, que fica no meio do caminho entre o ficcional e o documental. “Quero construir um Recife muito próximo do real. Com sol tropical, mas também com ventos ‘cinzas’, pois a Verônica é melancólica. Será um Recife da Verônica, uma vez que é seu personagem que detém toda a perspectiva, e nesse sentido, o filme tem seu lado ficcional”, explica Marcelo.

E continua, “‘Verônica’ é o filme que tinha vontade de fazer aos 23 anos, que mostrasse pessoas dessa geração num Recife ensolarado, mas com crises existenciais. E estas crises podem ser mais difíceis que as que vemos nos filmes europeus, pois vivemos também uma crise social. Afinal, como é pegar um ônibus lotado estando deprimido?”, lança a pergunta, sorrindo desse tragicômico infortúnio brasileiro.

Assim como “…Aspirinas…”, “Verônica” também vai mostrar uma revolução interior de seus protagonistas tendo a geografia (dessa vez metropolitana) como elemento determinante nesse processo. “Ainda não entendi muito bem minha personagem. Ela é difícil para mim e esse Recife que ela vive, é ela quem apresenta a mim. Tanto as pessoas, como a cidade, são elementos que a fazem crescer”, conta Hermilla.

E quem acha que é fácil criar um figurino contemporâneo que case ou defina esse perfil de pessoa, Beto Normal relativiza explicando que uma tentativa aqui foi deixar Verônica visualmente atemporal. “Gostaria que, ao ver o filme daqui a dez anos, não lembrássemos que ele foi feito em 2010. Outra marca forte nela é a presença da cor azul e sua relação com o mar”, diz.

Indagado se “Veronica” terá uma marca fotográfica e de luz tão forte quanto a de “Aspirinas”, o diretor de fotografia Mauro Pinheiro conta que não. “Será mais discreto. Estamos filmando com uma (câmera) arriflex 16mm, com autonomia de 11 minutos, e sua imagem é, digamos, menos limpa da que conseguimos com uma 35mm. E essa textura é mais compatível com a realidade que queremos mostrar”, revela.

Exultante estava o produtor João Vieira Jr. E não só com o andamento de “Verônica”, que ainda precisa de recursos para atingir os R$ 3 milhões que podem garantir um ritmo confortável até sua finalização. “De qualquer forma, estamos felizes com esse ano atípico em Pernambuco, com a produção de tantos longas-metragens. E destaco que estamos assim porque um cenário foi construído para esse momento, sendo o aperfeiçoamento do apoio estatal fundamental para chegar aqui. É um setor que ganhou visibilidade e qualificação, tendo o MinC de Gilberto Gil ajudado bastante com as discussões sobre descentralização e convergência das artes”, reflete.

Sobre “Verônica”, que tem recursos do BNDES, Petrobrás e Neoenergia, a previsão é de finalização em setembro de 2011; e o sonho de João Jr. é que suas produções rendessem o suficiente para poder produzir outros projetos de maneira independente. Estamos torcendo João, estamos torcendo.

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