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Entrevistas

Entrevista: Leonardo Lacca

-Permanência- ganha sua primeira exibição no Recife

Por Luiz Joaquim | 25.10.2014 (sábado)

O recifense vai ter o privilégio de hoje ver, às 20h no São Luiz pela programação do 7º Janela Internacional de Cinema de São Paulo, a produção pernambucana “Permanência”, primeiro longa-metragem de Leonardo Lacca.

Recém-nascido para o mundo – exibiu pela primeira vez no Festival do Rio, há 20 dias -, o filme protagonizado por Irandhir Santos foi todo rodado em São Paulo em três semanas de junho de 2012.

Nele, acompanhamos o fotógrafo recifense Ivo (Irandhir) que vai a capital paulista para uma exposição individual. Lá, hospeda-se na casa da ex-namorada (Rita Carelli), hoje casada com Mauro (Silvio Restiffe).

Entre conflitos de um amor reprimido, a relação à distância com o pai (Genésio de Barros), e o modo do fotógrafo se relacionar com São Paulo, “Permanência” dá dicas da personalidade cinematrográfica de Lacca, que conversou com ao CinemaEscrito sobre suas opções neste filme forte sobre a tomada de decisões na vida. Leia a entrevista:

ENTREVISTA : Leonardo Lacca

Há quanto tempo existe o projeto de “Permanência”?

Cerca de oito anos. Muitas pessoas acham que o curta-metragem “Décimo Segundo” [realizado por Lacca em 2007 com Irandhir e Carelli vivendo os mesmo personagens] é um embrião do longa. Na verdade está mais para um “demo”, como bem disse Kleber [Mendonça Filho, da CinemaScopio, produtora do longa]. O curta surgiu por uma necessidade de filmar logo algo a ideia do longa que já tinha em mente. É claro que o roteiro sofreu alterações e colaborações como a de Gregório Graziosi e Marcelo Lordello. Até Rita [Carelli], que também escreve, participou dessa construção.

Por que rodar em São Paulo?

Eu precisava de uma cidade que tivesse expressevidade artística para um personagem que vai fazer sua primeira exposição fotográfica. De fato, poderia ser qualquer grande cidade do mundo, mas no Brasil eu pensava em São Paulo como a mais influente nessa área. Aquela cidade pode ser muito opressora, mas pode ao mesmo tempo ser acolhedora. Há também uma relação de carinho entre Ivo e a cidade que também está no filme. Ele tem amigos lá Eu tinha a preocupação de não deixá-la caricata.

E sobre as dificuldades em rodar o filme noutro Estado?

Por incrível que pareça, não foi a loucura que se imagina. O projeto existe desde o início entre a [produtora] Trincheira, com Rita e Irandhir envolvidos. Mas em 2010, Emilie [Lesclaux, produtora] se uniu a nós. Chegamos a pensar em rodar as cenas internas no Recife e só as externas em São Paulo. Mas a ideia de termos todos da equipe, e não apenas os atores, experienciando São Paulo era importante para a cadência das filmagens. Entre tantas colaborações, a da gaúcha Laura Mansur como assistente de direção foi fundamental, quero voltar a trabalhar com ela, e também a diretora de produção Júlia Maury. Todos que liam o roteiro faziam cara feia para a dificuldade das cenas no metro da cidade. Júlia foi fundamental aqui. Com um orçamento de 395 mil reais, acho que conseguimos deixar o filme sem nenhum tipo de precariedade impressa na tela.

O filme dá uma dimensão de automatização em São Paulo e de pessoas como peças de uma engrenagem gigante ali. Em que medida você não pertencer àquele lugar influenciou nessa leitura?

Quando você vai a um lugar diferente você fica mais aberto a conhecer este lugar. É diferente quando você mora ali e muito lhe passa despercebido. De qualquer modo, não quiz fazer um tratado sobre São Paulo. O filme é mais sobre a experiência dos personagens e seus percursos. O filme começa mais claustrofóbicoe vai abrindo até o fim. São Paulo está presente nas personagens paulistas, assim como Recife está em Ivo. Ele carrega em si sua origem e sua visão de mundo.

Como definiu Genésio de Barros para o elenco?

Marcelo Caetano foi uma grande ajuda aqui. Genésio, que é até da [tevê] Globo, foi um convidado. Pensei até em trabalhar com José Carlos Machado, que está em “Prometo Um Dia Deixar esta Cidade”. O fato é que fiquei satisfeito com o que conseguimos com Genésio e sua experiência. A cena dele na fábrica, foi uma das primeiras que rodamos. Foi no dia Carlos Reichenbach morreu [14/06/2012], e naquela fábrica só trabalhava mulheres. Foi uma coincidência que marcou. [A coincidência que se refere diz respeito a história de “Garotas do ABC”, filme de Reichenbach]. Sobre seu personagem, é curioso porque as pessoas só o percebem por informações a seu respeito dadas por Ivo. E quando ele finalmente aparece, surpreende como algo bom, e não negativo. Sua imagem é mais complexa do que a informação que temos. Ele não é apenas um pai, mas um conselheiro.

A atriz Laila Paz parece ter mais espaço no filme que originalmente teria.

Acho que seu crescimento na história aconteceu na montagem. O trabalho com Edu [Eduardo Serrano] é bastante focada na narrativa pelos personagens .É um corte que se dá no olhar. Não é um montagem puramente funcional. Foi a primeira vez que trabalhei com um montador cuja discussão não é apenas técnica, sabe? Não era apenas o virtuosismo do corte. Andávamos claramente a partir dos personagens

A trilha sonora também preenche muito bem um espaço em “Permanência”. Como se deu essa definição com Jon Wygens, autor da trilha, além do trabalho de Cláudio Nascimento e Carlos Montenegro?

O conheci através de Edu [Serrano], com quem estudou na Inglaterra. Edu me disse que John era fácil de trabalhar e se permitia ser guiado pelo diretor. Quando ele viu um corte adiantado do filme, nos entendemos bem. Ele sempre remetia uma material muito profissional com a música já colocada na cena. Discutíamos não apenas a música, mas o sentido que ela empregava na cena. Quando mostrava o filme a amigos, sempre escutava que ele “pedia” música.

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