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Críticas

Maria Madalena

O protagonismo da discípula

Por Renata Malta | 15.03.2018 (quinta-feira)

Tratar de histórias bíblicas, em que não há muitas possibilidades de plot twist (reviravolta no desenrolar do roteiro), acaba, muitas vezes, despertando no espectador expectativas extremadas: adaptação literal ou polêmica que beira (talvez ultrapasse) o limite de tolerância dos católicos. Sem muitos intermédios.

O novo longa-metragem de Garth Davis (Lion), Maria Madalena (GB/Austrália, 2018) – com Rooney Mara no papel-título – apoia-se em debates atuais para esclarecer milênios de rejeição à única mulher seguidora de Jesus Cristo (Joaquin Phoenix), este, agora, coadjuvante.  Entretanto, o filme, talvez, agrade a todos.

Maria Madalena tenta preencher a lacuna na vida da controversa figura, exaltando a teoria de que a mulher tenha sido “a frente do seu tempo”, mal interpretada, refém do machismo durante toda a vida e, ainda, após sua morte, quando teve perpetuada a má reputação.

O filme encontra o divino no equilíbrio entre o silêncio e a bela trilha sonora de Jóhann Jóhannsson (Mãe!), sendo este o ultimo trabalho do compositor islandês. A trilha não é a única semelhança entre Madalena e Mãe!, o último filme de Darren Arronofsky. As narrativas permeiam o tema religioso com abordagens absolutamente distintas, de fato. Entretanto, se encontram nas provocações em que o feminino é posto em evidencia.

Além disso, a obra agrega em representatividade ao propor modificações nas apresentações habituais das adaptações bíblicas. Os discípulos irmãos Pedro (Chiwetel Ejiofor) e André (Charles Babalola) são interpretados por atores negros e “o cego de Jerico” é, aqui, uma cega.  Outra diferença está nos milagres, que acontecem, mas sem muitas firulas ou aparições sobrenaturais.

A inovação provoca, porém, o momento, talvez, seja mais propício para elas. Desta vez, as polêmicas do filme não devem ser recebidas pelo público com tanta hostilidade como no passado aconteceu com A ultima tentação de Cristo, de Martin Scorsese, diante da postura mais flexível que a Igreja católica vem adotando nos últimos anos. Maria Madalena foi reconhecida como apóstola, em 2016, pelo Vaticano, o que pode vir a afetar na receptividade do público diante da figura.

Estreando hoje (15), é o filme de Páscoa que o mercado exibidor reservou para 2018.

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