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Festivais

8 Olhar (2019) Étangs Noirs/história da crítica

Sobre um MacGuffin belga e um fundamental livro a respeito da história da crítica de cinema no Brasil

Por Luiz Joaquim | 10.06.2019 (segunda-feira)

– em foto de Isabella Lanave, os críticos Paulo Camargo, Luiz Joaquim, Ivonete Pinto e Rafael Carvalho, em debate no lançamento do livro Trajetória da Crítica de Cinema no Brasil.

CURITIBA (PR) – Entre os dez programas do 8o Olhar de Cinema: Festival Internacional de Curitiba, a competitiva é, logicamente, um sobre o qual os olhares da crítica se voltam com atenção. São dez títulos concorrendo neste ano, um deles –Étangs noirs (2018) – algo como ‘lagoas negras’, numa tradução livre -, vem da Bélgica tendo sido codirigido e roteirizado por Timeau De Keyser e Pieter Dumoulin, com este último presente aqui no Paraná.

Quase tudo acontece numa zona suburbana humilde de Bruxelas, mais particularmente num condomínio formado por enormes prédios residenciais – como uma espécie de cidade modelo – onde um pacote é entregue por equívoco no apartamento de Jimi (Cédric Luvuezo).

Desde a primeira cena até a última, o foco de Étangs noirs está no pacote. Ele é claramente um MacGuffin hitchcockiano (como assumiu Dumoulin num bate-papo após a sessão) para que nos interessemos na busca quase obsessiva de Jimi para entregar o tal pacote a sua destinatária.

O que há no pacote não sabemos, e o que motiva a determinação de Jimi também não. Assim sendo, parece sobrar pouco para nos envolvermos com Étangs noirs. O que sobra é exatamente a sua forma. A câmera colada quase que em toda a duração do filme em Cédric parece querer nos fazer adivinhar o que se passa na cabeça daquele jovem, negro e tão íntegro em sua determinação e moral. Talvez esse seja o principal (único?) trunfo temático do filme.

E Cédric segura bem esta responsabilidade do mistério que o roteiro nos propõe. Um roteiro muito calcado na sugestão e quase nunca por diálogos. Étangs noirs, assim, flui suave, mas parece nunca sugar o espectador para o drama de seu protagonista (ou, talvez, nem mesmo pretendesse que fosse assim).

Cédric Luvuezo em cena de “Étangs Noirs”

LIVRO – Como parte integrante da programação do 8o Olhar de Cinema, aconteceu ontem, às 13h30, no hall do Shopping Novo Batel, Curitiba, o mais novo lançamento literário da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine).

Editado pela Letramento, e organizado pela presidente da Abraccine – o crítico mineiro Paulo Henrique Silva -, Trajetória da Crítica de Cinema no Brasil é o quinto livro temático da instituição. Em um debate promovido por aqui, integrante ao lançamento, participaram quatro de seus autores (de um total de 33): Paulo Camargo (de Paraná); Luiz Joaquim (editor deste CinemaEscrito.com por Pernambuco); Ivonete Pinto (Rio Grande do Sul); e Rafael Carvalho (Bahia).

Trajetória da Crítica… é resultado de um trabalho inédito, reunindo pela primeira vez a história do início e do desenvolvimento do exercício da crítica de cinema em 23 dos 27 estados do País, incluindo o Distrito Federal.

Neste levantamento é possível traçar uma trajetória comum, mesmo em lugares distantes do centro econômico, que começa concomitantemente à abertura das primeiras salas de exibição, no início do século passado, e prossegue com a criação de cineclubes, força-motriz do pensamento cinematográfico brasileiro nas décadas de 1930 a 1960, que acompanhavam os debates sobre a evolução da própria arte a partir dos movimentos do Neorrealismo Italiano e da Nouvelle Vague. Revistas e jornais dedicaram grande espaço à reflexão sobre o cinema, nacional e estrangeiro, e, não raro, a atividade crítica desembocava na produção de filmes.

Nomes de referência internacional serviram como farol para várias gerações de críticos, entre eles Paulo Emílio Sales Gomes, presente em boa parte dos capítulos deste livro. A publicação também reúne artigos sobre a produção na internet, para onde a crítica vem migrando nos últimos anos; lança luz sobre o trabalho feito por mulheres; e registra a formação de associações de críticos.

O livro conta ainda com as apresentações de luxo de Jean-Claude Bernardet e Ismail Xavier configurando-se, assim, como uma importante ferramenta para o estudo do cinema, da crítica e do jornalismo cultural no país.

O livro já pode ser adquirido pelo site da editora, acesse clicando aqui.

* Viagem a convite do festival

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