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Críticas

Predadores Assassinos

Entre as artimanhas do cinema de gênero e as do drama familiar sobram os crocodilos e o espectador

Por Felipe Berardo | 18.09.2019 (quarta-feira)

Após uma breve expedição no mundo da fantasia com o filme A nona vida de Louis Drax, o diretor francês Alexandre Aja volta com Predadores assassinos (Crawl, EUA, 2019) a  trabalhar no gênero de terror, pelo qual é mais reconhecido, num projeto que traz o ícone do gênero, Sam Raimi, como produtor.

Uma colaboração que já quase ocorreu há 15 anos quando Raimi ofereceu o filme Os mensageiros como possível primeiro projeto estadunidense de Aja, que tinha certa atenção internacional recebida com o filme Alta tensão como parte do movimento de terror gore do Cinema Francês Extremo. No entanto, o primeiro projeto do francês nos EUA viria da oferta de um outro mestre do terror, Wes Craven, com o remake do seu clássico Quadrilha de sádicos que foi retraduzido em 2006 como Viagem maldita no Brasil.

Apesar desse histórico contexto de produção, no entanto, o filme produzido e com estreia agendada para próxima quinta-feira (26) no Brasil tem aspirações bem modestas, refletidas na agradável duração de 87 minutos. O longa-metragem trata da história de Haley (Kaya Scodelario), uma nadadora esportiva na faculdade, que em meio à evacuação da população da cidade, devido a um furacão, tenta encontrar seu pai ausente para confirmar seu bem estar em meio a tempestade e acaba presa, junto ao pai ferido, dentro do porão da antiga casa da família com imensos crocodilos. 

O longa que se passa na Flórida, espaço perfeito para a trama ligada aos crocodilos, alcança seus melhores momentos quando permanece numa estrutura eficiente de filme de terror de sobrevivência sem maiores intenções ou metáforas, algo de certa forma até revigorante num filme do gênero em tempos de ascensão do suposto “pós-horror” que nega literalidade em função de objetivos maiores. Aqui os gratificantes e ocasionais momentos de violência gráfica como uma fratura exposta sendo posta de volta no lugar ou corpos sendo dilacerados por crocodilos renderizados por efeitos especiais digitais são mais importantes do que o luto e vida emocional dos personagens.

Isso dito, mesmo com esse lado disposto a satisfazer quaisquer predisposições sádicas do público, o filme ainda passa um período considerável de sua duração lutando contra essa eficiência de gênero em que funciona melhor, introduzindo uma história de fundo sobre a quebra da família dos personagens por um divórcio que nunca soa verdadeira, nem consegue alcançar os momentos emocionais que parece buscar. Essas duas partes lutam entre si pelo curto tempo de tela, especialmente na primeira metade, e esses momentos dramáticos mais convencionais são recorrentes o bastante para quebrar o ritmo do filme, afetando o que provavelmente são suas duas maiores qualidades: o curto tempo de duração e a sua falta de grandes pretensões.

Também incomoda, por boa parte do filme, a quantidade de conveniências do roteiro que surgem na forma de decisões estúpidas de personagens ou na combinação de piores cenários possíveis acontecendo sempre que possível. Ao menos esses possuem algum tipo de valor de entretenimento, principalmente na metade final do filme, quando separados da maior carga dramática pretendida em seu início. Parecem quase transformar o filme numa cartunesca comédia de erros, todos os acontecimentos como nada mais do que o inevitável e cruel destino criado pelos cineastas para aqueles personagens que nada podem fazer senão tentar sobreviver.

Uma decisão acertada é o final que não se prolonga nem um segundo além do necessário para dar resolução à situação da família ilhada na casa, sem quaisquer momentos de tentativa de catarse emocional para os conflitos introduzidos. É estranho que o filme passe tanto tempo desenvolvendo o drama óbvio e desinteressante daqueles personagens para desistir da resolução na parte final. De qualquer forma, livrar-se disso tudo para voltar a eficiência em que o filme funciona melhor é definitivamente uma surpresa agradável.

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