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Festivais

24º Cine PE (2020) – Entrevista: Edu Fernandes

Uma conversa com o curador do festival sobre os desafios desse posto no festival pernambucano.

Por Luiz Joaquim | 23.11.2020 (segunda-feira)

– na foto divulgação acima, de Felipe Souto Maior, a apresentadora do festival, Nínive Caldas, grava previamente a abertura do evento. 

Começa hoje (23), e segue até quarta-feira (25), o 24º Cine PE: Festival do Audiovisual. Apresenta seis longas-metragens nacionais em competição e 31 curtas-metragens divididos entre as mostras nacional e pernambucana. Em 2020, a disponibilização dos filmes ao público acontecerá inteira e exclusivamente pelo Canal Brasil na televisão e na internet – por meio da plataforma de streaming Canais Globo (antigo Canal Brasil Play) –, além da TV Pernambuco (tevê aberta, no estado, no canal 11.1). Saiba todos os detalhes clicando aqui.

Na programação dos longas-metragens, a agenda de apresentação está dividida na seguinte ordem: Hoje, a partir das 18h, o documentário carioca Ioiô de Iaiá, de Paula Braun, seguido da ficção gaúcha Mudança, de Fabiano de Souza. Amanhã (24), mesmo horário, o doc. baiano Memórias Afro-Atlânticas, de Gabriela Barreto, com a ficção paulista Mulher Oceano, de Djin Sganzerla. No último dia (25), o doc. pernambucano Nós, que ficamos, de Eduardo Monteiro, abre a noite, seguido pela ficção carioca Buscador, de Bernardo Barreto. Leia mais detalhes da programação e a sinopse de todos os longas e curtas-metragens do 24º Cine PE clicando aqui.

Imagem do longa “Ioiô de Iaiá”, que abre hoje a programação de longas-metragens

A frente desta seleção está, pelo terceiro ano, o crítico paulista Edu Fernandes. Desta vez auxiliado pela também crítica paulista Nayara Reynaud (do site Nervos), Edu tinha a missão de encontrar os melhores termos para uma programação a ser apresentada num formato de exibição inédito para o festival, e num ano em que os desafios se apresentaram numa nova natureza de limitações.

O profissional, um habitual frequentador do festival recifense que aqui vinha como crítico cobrindo o evento, é formado em Audiovisual pela ECA/USP e é também roteirista e programador do circuito Cine Materna (que, por enquanto permanece suspenso por conta da pandemia). No seu histórico profissional, Edu também registra passagem pela Revista Preview, com experiência em sites como Cineclick, UOL Cinema, Papo de Cinema e GQ, revistas SET e Rolling Stone entre outros. Atuou ainda na rádio Jovem Pan e programas televisivos, tendo também já ministrado cursos de história do cinema e de crítica, sendo ele próprio um dos integrantes da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine).

Nesse bate-papo com o CinemaEscrito, Edu relembra os primeiros passos quando assumiu esse trabalho, fala da entrada de Nayara (crítica também associada a Abraccine) na equipe, dos desafios da edição 2020 e do perfil curatorial do festival. Acompanhe.

Edu Fernandes, foto divulgação

Entrevista: Edu Fernandes 

Como foi sua aproximação para trabalhar na curadoria da edição 2018 do festival? Você lembra qual foi o seu sentimento quando iniciou aquela função?

Lembro bem. A edição do ano anterior [2017] havia sido muito polêmica. Foi o ano do documentário sobre Olavo de Carvalho. Naquele mesmo ano, encontrei Sandra [Bertini] no Cine Ceará e lhe disse que tinha vontade de trabalhar com eles. Minha proposta era colaborar na mediação dos debates. Lembro como era puxado para o André De Biasi, quando [ele] fazia a assessoria de impressa do festival, também ter de dar conta dos debates. Depois disso, a própria Sandra assumiu essas mediações o que também não era interessante pelo acumulo de funções. Quando conversamos no Ceará, falei também sobre oferecer um curso ou ajudar na curadoria. Foi quando surgiu o convite para integrar a curadoria, coisa que fiz ao lado de Danilo Calazans e Edna Fuji [falecida em maio de 2019] para as edições de 2018 e 2019 do festival.   

Qual era o grande desafio para a edição 2018?

Havia poucas inscrições de filmes para aquela edição, o que era esperado, então fizemos uma garimpagem mais intensa. O desafio era encontrar naquela oferta coisas boas e eu tinha me imposto metas para continuar naquele trabalho, ou seja, sair de 500 inscrições para 750. Bom, hoje já chegamos a mais de 900 inscrições e lembro de ter feito uma muito boa seleção de curtas-metragens em 2019, quando as montei pela primeira vez. Nesse trabalho, eu me fazia uma cobrança silenciosa. O desejo era também reconquistar a confiança do realizador pernambucano. Conseguimos. Tivemos mais inscrições pernambucanas a ponto de precisarmos dar mais espaço a estes filmes na mostra nacional, sacrificando filmes de outros estados para dar espaço aos locais, inclusive aos longas.

Nayara Reynaud, divulgação

2020 é o primeiro ano com a Nayara Reynaud colaborando na curadoria, como foi a decisão pelo seu nome e como é o trabalho conjunto de vocês?

Sandra [Bertini] me procurou para reformularmos a equipe e uma decisão dela era que o novo nome a ser escolhido deveria ser o de uma mulher. Eu respondi que se não fosse assim, com uma nova mulher na equipe, eu nem aceitaria porque há o meu limite masculino na minha capacidade de avaliar os filmes. Eu já queria trabalhar há alguns anos com a Nayara, profissional que admiro muito, daí que nem pestanejei na escolha de seu nome, ainda que ela nunca tivesse trabalhado com curadoria. Nosso trabalho resultou numa bela soma, com constantes troca de listas e comentários sobre o que víamos até chegamos a um número de 100 filmes para a reunião final. Trabalhamos os longas e os curtas juntamente. E eu, particularmente, adoro o trabalho de montar o programa de curtas, fazendo eles ‘conversarem’ entre si. Para os longas sempre dependemos muito da agenda dos realizadores.

Qual o grande desafio da curadoria nesse 2020?

Foi lidar com a ansiedade e a frustração. Lembro que em 2018 eu me dei conta da responsabilidade daquele trabalho já no final do evento. Pensei que se eu tivesse passado muito tempo com essa preocupação no início, talvez eu ficasse paralisado. Agora em 2020, achei que, pela primeira vez, esse seria o ano em que o festival não seria adiado. Em 2018 houve a greve dos caminhoneiros, em 2019, atraso na Lei Rouanet e, em 2020, veio a pandemia. Num ano normal, eu estaria vendo agora [em novembro] as obras para a edição do ano seguinte. Outra coisa que lamento é não poder ver os filmes no [cinema] São Luiz [Recife]. Não vamos poder ver os filmes que selecionamos lá neste ano. E essa experiência provoca um impacto muito grande e diferente do que assisti-los na tevê ou computador. Ao mesmo tempo, fico contente que os filmes poderão ser acessados por mais gente, o que será bom para o meu trabalho. Tenho dito que tenho trabalhado como uma espécie de ‘curador-ermitão’. Até escrevi que gostaria de participar de conversas com outros curadores e trocar ideias.

Aproveitando sobre o modo virtual online dos festivais, o que mais vê de negativo e positivo?

Não consigo dizer em termos de positivo e negativo. É algo muito diferente e estou experimentado isso agora. Estou conseguindo me sentir melhor agora com essa situação. A antiga possibilidade do festival acontecer presencialmente era um acalanto, como uma luz no fim do túnel. Saber que iria encontrar os amigos no festival me alimentava. Então tive que fazer um processo de reconciliação comigo mesmo. Afinal, tinha de ser assim, por questão de segurança.

Sobre a programação 2020, o que diria aos espectadores se você fosse convidá-los a acompanhar o festival? Por que essa edição vale a pena?

Gosto de colocar que o que temos é a diversidade, o pluralismo na programação. A ideia por trás do termo ‘cinema brasileiro’ é algo muito grande. Não há apenas uma estética. É o oposto disso. Gosto da ideia de abraçar todas as regiões do Brasil no trabalho que fazemos, e trazer obras com discursos e causas representativas, que valham a pena e que atualmente façam sentido. O que o espectador pode esperar é se ver naquilo que é seu.

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