Belíssimo filme de Hal Ashby que conta a saga do célebre cantor de folk song Woody Guthrie, de sua juventude numa pequena cidadezinha do Texas, até o início de sua carreira.

O destaque aqui vai para a sensibilidade com que Ashby conduz a história, sem pressa, mostrando Guthrie (David Carradine) nas suas relações com a própria família, bem como suas desventuras em busca de reconhecimento através de suas canções.

Em sua jornada buscando trabalho, o pacato e contemplativo Guthrie tenta ganhar alguns trocados pintando letreiros ou tocando suas músicas. Passa fome, encara injustiças e crueldades diante da dura exploração de mão-de-obra barata no meio da crise, mas resiste com otimismo. A música sempre o salva.

Outro trunfo é a espetacular direção de arte casada à bela fotografia de Haskell Wexler. Situada na grande depressão do início dos 1930, Bound… mostra as paisagens texanas em tons terrosos e atmosfera empoeirada. Seus tipos humanos são cobertos por uma constante névoa, que impregna automóveis, casas e pessoas, transformando todos em fantasmas do passado, mas que teimam em deixar suas marcas.

Cena de “Bound for Glory”

Duas cenas icônicas, que merecem menção: uma delas é a majestosa sequência da gigantesca tempestade de areia, e seus efeitos na cidadezinha. Minutos depois, dentro de casa, Guthrie se aloja com seus familiares, esperando a poeira assentar. O plano é surreal, e luzes volumétrica atravessam os rostos do grupo, sentados em sofás surrados. Poesia pura.

A outra entra no campo técnico. A obra mostra pela primeira vez na história do cinema o uso da steadicam para um plano sequência, sob os cuidados do operador Garrett Brown. O momento é captado com uma desenvoltura que remete à dinâmica de filmes produzidos em tempos atuais. Foi o suficiente pra despertar interesse dos estúdios e realizadores. Considerado um injustiçado do Oscar, o filme enfrentou um páreo duro na época, concorrendo com Rede de intrigas e Taxi driver. Hoje em dia, esse musical biopic encontra-se completamente esquecido.