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Festivais

12o. Bafici (2010) – dia 1

Bafici começa com filme político

Por Luiz Joaquim | 08.04.2010 (quinta-feira)

Buenos Aires (ARG) – Para apresentar a 12ª edição do Bafici, o diretor artístico do evento, Sergio Wolf, que também é crítico e cineasta, recitou texto provocativo sobre a necessidade de debater a identidade do cinema argentino. Discussão que parece escoar até o conceito de curadoria do festival, que além de ampliar repertório da cinefilia local, aparece imbricado com a produção independente da América Latina, via atividades paralelas como o Buenos Aires Lab (Bal) – evento que propõe articulação entre diversos agentes da indústria do cinema.

Wolf também falou que o Bafici não olha para o passado com nostalgia, mas a partir da dinâmica contemporânea. Nesse sentido, parece um posicionamento simbólico optar por “Secuestro y muerte”, do diretor Rafael Filippelli, como filme de abertura. É uma obra sisuda, de forte secura emocional, que desenvolve um tipo de revisão ficcional da história política da Argentina a partir da persona de Pedro Eugenio Aramburu, presidente militar que nos anos 1950 liderou regime da Revolução libertadora. É trabalho que propõe observar o passado baseado na maturidade e no distanciamento afetivo, como sugeriu Wolf.

Talvez por isso seja um filme que questiona o papel do líder político sem rancor juvenil ou amargura militante, mas a partir da objetividade discursiva e do rigor formal. Na história, um general é sequestrado por quatro pessoas e levado para casa de campo. Lá, é interrogado sobre as decisões políticas que tomou anos atrás.

Esses fatos são narrados com forte interesse em objetividade semântica, algo semelhante ao ótimo filme romeno “Policial, adjetivo“, que leva essa noção de debate moral e ortográfico ao paroxismo. É objetividade expressa no próprio título, que resume o filme com certeza jornalística.

O que separa os dois momentos, o sequestro e a morte, é um conjunto de digressões, algo que remonta ao texto exótico de Tarantino: ao invés de explicar as motivações dos sequestradores com a precisão da psico bobagem, Filippelli coloca seus personagens para tergiversar sobre todo tipo de assunto. Oportunidade rara para aprender mais de 30 formas de se referir ao órgão sexual masculino.

É o tipo de filme que poderia ser inserido na formatação estética da desdramatização, recurso que exclui qualquer tipo de histeria emocional. O que poderia ser escolha gratuita para fazer o filme ser forçosamente rotulado como cabeça, aqui é ferramenta útil para estimular via encenação as tensões entre os personagens. O fim brusco ao som de marteladas repetitivas soa mais como decreto da frieza desta narrativa do que suposto acerto de contas via cinema.

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