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Festivais

39º Gramado (2011) – noite 3

Dois filmes, duas viagens em Gramado

Por Luiz Joaquim | 08.08.2011 (segunda-feira)

GRAMADO (RS) – Na noite de domingo, a competição de longas-metragens começou a esquentar neste 39º Festival de Cinema de Gramado. A propósito da temperatura, o clima tem sido generoso, com média de 10 graus centígrados nas ruas da Serra Gaúcha, que só sofreu alteração naquela noite, com chuva e trovoadas fortes. Trovões cujos estrondos interagiram bem com a projeção de “Uma Longa Viagem”, documentária Lúcia Murat, exibido para um Palácio dos Festivais com meia ocupação.

Os estrondos ajudaram na imersão do universo criado por Murat, que esteve em Gramado com “Que Bom Te Ver Viva”, 1989. No velho documentário, ela entrevistava mulheres que pegaram nas armas contra a ditadura militar, tendo sido ela mesma uma torturada presa política, por três anos e meio, no início dos anos 1970.

Com o novo “Uma Longa Viagem”, ela vai mais fundo na história de sua própria família, e resgata os caminhos traçados por ela e seus dois irmãos. O mais presente no filme é o caçula Heitor, que em 1969 foi para a Europa para não entrar na luta armada brasileira. No exterior, Heitor deu a volta ao mundo e experimentou as mais alucinadas “viagens” com entorpecentes.

Mas o irmão mais velho, Miguel, já falecido, foi a verdadeira motivação para este belo trabalho existir, com uma investigando da memória. O roteiro segue as cartas que Heitor enviava do exterior à família, cuja leitura é feita por Caio Blat caracterizado como o próprio e interagem com projeções sobre seu corpo, mostrando imagens de uma Inglaterra, Afeganistão, Egito, EUA, Austrália e outros países na época em que Heitor circulava por lá.

A técnica, confessou Lúcia em Paulínia, foi influenciada quando ela conheceu o curta-metragem “Super-Barroco”, de Renata Pinheiro. A propósito, “Um Longa Viagem” foi eleito melhor documentário pelo júri da crítica no Festival de Paulínia há menos de um mês.

Antes de Murat, o diretor e roteirista mexicano Sebastián Hiriat apresentou “A Tiro de Pedra”, co-roteirizado com o ótimo ator protagonista Gabino Rodriguez . O jovem ator foi inclusive premiado ano passado aqui em Gramado por “Perpetuum Mobile”, de Nicolás Pereda. Gabino vem se tornando uma referência no México. Este ano foi visto também em “Assalto ao Cinema”, de Iria Gómez – e comentado pela CinemaEscrito durante o 21º Cine Ceará, em junho.

Apesar de provavelmente frustrado por seu filme ter sido exibido em DVD e com marca d’agua sobre a imagem (cópia 35mm não chegou a tempo), Hiriat – que também fotografou o filme -, parecia tranquilo dizendo-se feliz se apenas cinco minutos, da obra de 97, conseguir agradar a platéia.

“A Tiro de Pedra” segue Jacinto (Gabino), um pobre criador de cabras num desértico vilarejo mexicano que um dia encontra um chaveiro no meio do nada, indicando uma casa no gélido estado de Oregon, EUA. Motivado por um sonho (literalmente), Jacinto começa uma viagem em busca de algo incerto. Vai sem recursos ou legalidade. O que impressiona aqui é a determinação desse homem simples, frente aos desafios que a natureza e a sociedade lhe impõem. Gabino, aqui, só reforça seu talento de excelente ator.

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