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Festivais

23o. Fest Curtas SP (2012) – Quinha

Quinha é o belo trabalho debut de Caroline

Por Luiz Joaquim | 29.08.2012 (quarta-feira)

Aquele que for ver às 18h de hoje o filme “Quinha” (Bra., 2012), dentro da programação do 23º Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo, terá certeza de que se trata de mais um (belo) feito do cinema pernambucano. O raciocínio não estará totalmente errado, nem totalmente correto. Explica-se. “Quinha”, rodado em março de 2010 em Cabaceiras (PB), foi realizado pela recifense Rec Produtores mas saiu da cabeça da paulista Caroline Oliveira, jovem cineasta formada em cinema pela New York University (a NYU, mesma que formou Scorsese, Spike Lee, Oliver Stone, entre outros) e radicada na Big Apple.

“Quinha” nasceu de um projeto de mestrado de Caroline, cuja família é do Nordeste, e a avó ainda reside no bairro de Boa Viagem (Recife). “Escutava histórias contadas por minha avó e um imaginário da cultura nordestina sempre me fascinou. Questões com relação a religião e a fé, com a esperança por milagres parecem encaixar história ligadas ao surrealismo”, explicou a diretora, em São Paulo, numa entrevista exclusiva aoCinemaEscrito.

“O universo surrealista me interessa e li bastante autores como Gabriel Garcia Marques, José Luis Borges e Flannery O Connor [autora norte-americana] enquanto pensava no meu filme”, revela. Não é à toa que o foco de “Quinha” está na expectativa de salvação cultivada por duas personagens femininas. O filme acompanha o dia do batizado cristão de Quinha (a ótima menina Maria Helena Mendes, descoberta em Cabaceiras por Caroline) enquanto sua mãe Rosa (Hermila Guedes, perfeita no papel) se agarra na esperança da volta do marido.

O perfil desta Rosa lembra o da protagonista de “O Céu de Suely” (2006), de Karim Ainouz, também vivida por Hermila. “Foi por sua atuação em Suely, que pensei em Hermila para o papel, mas a Rosa é um pouco mais dura que a personagem do Karim”, destaca. Já sobre a escolha de Maria Helena, Caroline lembra que “o fato de ela, no teste, demonstrar ser uma criança que acreditava na mágica de seus sonhos foi determinante”.

Estudando na NYU, Caroline escutava bastante uma corrente que dizia ser o mais coerente fazer um filme sobre um assunto que você conhece muito bem. “Eu, na verdade, pensava o contrário, queria investigar exatamente algo novo para aprender com aquilo”. Com o Nordeste em mente, Caroline contou que começou um trabalho de sedução ao produtor João Vieira Jr., da Rec. “A agenda dele é muito cheia, então comecei a cercá-lo por meio de seus amigos até ele “compra” a ideia do filme”, conta.

Neste processo, entrou no circuito o montador João Maria, que editou “Quinha” daqui do Recife, com Caroline em Nova Iorque, mas acompanhando todo o processo virtualmente por meio do Skype (um aplicativo que possibilita videoconferência ao vivo). “Acredito que o bom do cinema é trabalhar ao lado de pessoas inteligentes, que agregam na construção do filme.O João Maria foi uma dessas pessoas, assim como meu fotógrafo Jimmy Lee Phelan. Ao visitar a locação com ele, saiu a ideia de filmarmos em 16mm, o que foi bom para registrar as várias texturas do sertão e imprimir um visual antigo ao filme. Isso destacou ainda mais a ideia de atemporalidade que eu queria para o filme”, comenta.

Sobre o trabalho de Caroline, podemos dizer que em “Quinha” há a sua perspectiva delicada sobre os medos e desejos femininos, seja adulto ou infantil, que numa narrativa tradicional (no caso aqui, do bem) nos põe igualmente dentro tanto do universo da mãe como o da filha. E, diante de nossas nossas vistas, Caroline conta de fato uma fábula sobre o laço que se aperta entre uma mãe e uma filha. É bem bonito.

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