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Críticas

Super size me

Os efeitos da McGula

Por Luiz Joaquim | 16.07.2018 (segunda-feira)

– texto originalmente publicado em 21 de outubro de 2004 na Folha de Pernambuco.

Não há dúvidas que hoje o documentário ganhou novo status entre o público. O que tem impulsionado essa empatia é justamente uma estratégia narrativa na qual o realizador se coloca dentro do processo de questionamentos que seu trabalho propõe. Talvez Michael Moore (com seus Tiros em Columbine e Farenheit 9/11) seja atualmente o maior ícone desse gênero. Outro norte-americano que apostou nessa opção narrativa foi Morgan Spurlock com Super Size Me (EUA, 2004) no qual se obriga a alimentar-se apenas de produtos da McDonald’s por 30 dias e verificar os efeitos disso em seu corpo. O resultado é uma irresistível combinação de registro ativista com entretenimento de alcance extremamente popular. O filme estréia hoje (21/10/20104) no Cinema da Fundação.

Uma das grandes críticas que se faz ao documentário é que ninguém come fast-food com essa freqüência, mas Spurlock não quer comprovar nada disso. Quer apenas que a pessoas acordem para o poder nocivo contido numa dieta recheada de gordura e açúcar. Para transmitir sua mensagem, o diretor se apoia primeiro em informações oficiais traçando o perfil alimentício do povo norte-americano, com assustador percentagem populacional acima do peso. Na seqüência, Spurlock revela as estratégias de marketing de diversas empresas “fatty food” do país e a hegemonia mundial da lanchonete criada por Ronald McDonald.

O desejo que o cineasta deixa explícito em seu filme é o de fazer com que sedimente na sociedade a noção de que hambúrgueres e derivados são não só produtos contra-indicados para uma boa saúde, mas também um alimento não-natural e por isso condenável. Um exemplo claro está no depoimento de um de seus personagem,  quando faz analogia com o repreensão social contra o uso do tabaco. A ideia é que a comunidade empregue o mesmo fervor contra as fast-food como imprime à indústria do cigarro.

Para reforçar esse ponto de vista, Spurlock contrapõem a dieta do lanche de uma comum escola particular com uma outra especial para alunos problemáticos. Enquanto na primeira a alimentação é pautada por produtos industrializados, a segunda só fornece comida natural. Aqui Spurlock força um pouco a barra ao tenta fazer conexões entre o malefício dos fast-food e às corporações alimentícias. De qualquer forma, fica claro para o público que mexer com essa indústria é mexer com um conglomerado gigantesco de interesses político e financeiro.

Mas o clima tragicômico (e o maior trunfo no poder de convencimento) de Super Size Me começa quando Spurlock se submete a dieta McDonald’s por um mês. Acompanhado por uma equipe médica (cardiologista, clínico geral, nutricionista) Spurlock, médicos e público vão se assustando com o efeito medonho que a comida provoca no seu corpo e mente sadios. O diretor-cobaia (que ganhou 8 quilos em 10 dias) se impôs uma regra extra além de fazer as três refeições diárias na McDonald’s: sempre que lhe oferecessem o tamanho grande (super size) ele teria de aceitar. E divertido, e ao mesmo tempo deprimente, a reação de Spurlock quando encara seu primeiro sanduíche gigante e seu balde de refrigerante gerando “McArrotos e McGazes” até fechar com McVômitos. Algumas semanas após a première de Super Size Me no festival Sundance, em Utah (EUA), a McDonald’s retirou do menu o tamanho grande e, posteriormente, distribuiu uma resposta oficial às informações que o filme divulga. Parece que David mais uma vez mexeu com os brios de Golias.

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