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Críticas

Shine

Se depois quiser assistir o supra-sumo do filme, procure “Um anjo em minha mesa” de Jane Campion.

Por Luiz Joaquim | 22.10.2018 (segunda-feira)

— publicado originalmente em 06 de Abril de 1997 no Jornal do Commercio.

Todos sabemos das dificuldades de concatenar a história de uma vida em duas horas. Essa dificuldade aparece no filme de Scott Hicks. Shine relata as desventuras do pianista/concertista David Helfgott, na época com 49 anos.

Mais preocupado em mostrar o lado poético do artista e sem tentar esclarecer os motivos pelos quais David é internado por vinte anos como esquizofrênico, o filme mostra, desde os primeiros passos de David criança (interpretado por Alex Rafalowicz), passando pela adolescência, quando essa é bruscamente interrompida pela doença (e otimamente interpretada por Noah Taylor) até chegar a idade adulta (Geoffrey Rush – vencedor do
Oscar de melhor ator) quando volta ao convívio social mesmo ainda com distúrbios…

Vindo de uma família judia, encabeçada por um pai (O excelente Armin Mueller-Stahl) que é atormentado e traumatizado pelas lembranças do Holocausto, o David menino é obrigado a encarar a vitória como o sentido de sua vida, num mundo onde “só os fortes sobrevivem”.

Como ele não é perfeito, e nem sempre vence, acaba rompendo relações com a família e, já adolescente, vai se dedicar ao que mais gosta. Estudar música.

O que deduzimos ao assistirmos Shine é que: as convicções impostas pelo seu pai, somadas ao seu perseguido desejo de executar a mais difícil obra considerada para o piano – o Concerto para piano número 3 de Rachmanisnoff – foram os principais fatores que o levou ao colapso nervoso, interrompendo, dessa forma, sua carreira.

Shine é um filme repleto de belos momentos que, pela eterna personalidade pueril de David, faz daquele que assiste o filme um saudosista da liberdade dos tempos de criança. Cenas como a que ele corre pela chuva ou pelo campo sem destino; em que brinca pelado na banheira enquanto toma banho; ou enquanto brinca, também pelado, ouvindo walkmen na cama elástica são prova disso.

Outra cena, como aquela em que a direção do filme tenta mostrar o grau de envolvimento do artista quando esse rege seu concerto,
também chama atenção.

São essas cenas, ao meu ver, o maior mérito do filme. O que não deveria, apenas, ser. Era de se esperar um maior envolvimento com o universo de David durante sua conturbada vida. O que nos deixaria mais íntimo do personagem tornando mais fácil compreender suas atitudes. O que existe no
filme é um certo distanciamento, principalmente no período em que ele estava confinado ao manicômio, deixando a estória bem menos envolvente do que seu potencial sugere.

De qualquer maneira, Shine merece ser conferido pela lição de capacidade de vencer obstáculos que o filme ensina através da figura de David Helfgott.

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