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Críticas

8 1/2 Festa do Cinema Italiano (2019), “Euforia”

Reencontro de dois irmãos distintos, mas amorosos cada um ao seu modo, é o que nos oferece Valeria Golino

Por Luiz Joaquim | 06.08.2019 (terça-feira)

Euforia (idem, Ita., 2018), de Valeria Golino (você talvez lembre dela como atriz por Rain man) deverá envolver muito rapidamente seu espectador, particularmente pela alegria e leveza inicial – repetimos, inicial-, pela qual conhecemos seu protagonista Matteo (Riccardo Scarmacio).

Matteo é um publicitário que vive em Roma de extremo sucesso profissional e financeiro. É humorado, divertido, tem sua homossexualidade social e familiarmente bem resolvida, mora num apartamento luxuoso, em área nobre, próximo ao Monumento Nazionali a Vittorio Emanuele II, usa relógios de 25 mil Euros, e tem uma vida sexual livre.

Sua origem é, porém, simples. Veio de uma pequena cidade onde ainda reside sua superprotetora mãe e o irmão mais velho Ettore (Valerio Mastandrea), este modesto. Professor de uma escola secundarista, Ettore vive um novo romance após a separação da esposa (a estrela Isabella Ferrari) com quem viveu por muitos anos e com ela teve um filho.

O cenário aqui é o de uma aproximação forçada entre o extravagante Matteo e o discreto Ettore, uma vez que este último passa temporada em Roma na casa do irmão para um tratamento de saúde.

A situação de Ettore é grave e Matteo é o único que detém a informação, não compartilhando nem com o próprio doente. Euforia segue seu enredo, portanto, nos colocando entre os irmãos cada um com sua peculiaridade, tão distante entre si no modo de vida, mas tendo uma raiz única. É essa raiz familiar que determina uma comunhão que parece incontornável entre os dois.

Golina conduz essa história fraterna com uma leveza louvável, apresentando esses homens com seus defeitos e qualidades como humanos quaisquer.

Um outro elo liga os dois por motivos distintos. É a euforia instantânea provocada pelas drogas que ambos usam (cada um por motivos particulares). As recreativas e ilegais usadas pelo sofisticado Matteo acabam se tornando instrumento para escapar do sofrimento psicológico, da mesma forma como são instrumentos escapistas as drogas legais usadas por Ettore para retardar os efeitos de sua doença.

Talvez o mais angustiante aqui não seja a doença de Ettore, mas a percepção do milionário Matteo de que não pode comprar a cura do irmão. Mesmo que estando à mão, não há viagem a Nova Iorque ou apelo a qualquer cidade religiosa que resolva o insolúvel.

E é curioso observar como Golina constrói o seu extrovertido herói calado em seu segredo, sempre se esforçando para não explodir. E para o que não poderia ter final feliz, a diretora resolve tal dilema com uma sequência cinematográfica extraordinária, daquelas em que o espectador deverá sair da sala de cinema querendo abraçar alguém querido, olhando para o céu.

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