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Os 1970s que Amamos (#22)

A Última Investigação (The Late Show, 1977)

Por André Pinto | 27.04.2021 (terça-feira)

Sabem da expressão popular Juntar a fome com a vontade de comer? É isso o que está por trás da coluna Os 1970s que Amamos iniciando hoje aqui no CinemaEscrito sob a assinatura do realizador e designer André Pinto.

No 1º de abril deste 2021 (dia da mentira, que belo dia para começar a escrever sobre cinema), André resolveu que começaria a correr uma maratona de filmes lançados na década de 1970. Nas palavras de André: “Os filmes dos gloriosos anos 1970. Alguns célebres, outros esquecidos”.

Para quem conhece um pouco da produção daquela década, sabe que ela foi transformadora para o nosso entendimento de como viríamos a perceber o cinema posteriormente, seja pela opção estética ou apenas pela lógica do mercado.

Após um convite informal, feito pelo editor do site ao autor (e, para nossa alegria, aceito), para que André depositasse sua produção aqui no CinemaEscritoe assim tivéssemos, todos, uma maior facilidade de acesso e localizção -,  começamos hoje publicando o seu mais recente texto.

O 22º segundo texto (daí o #22 no título), escrito num período de apenas 24 dias.

Seguiremos publicando seus novos (virão muitos) e anteriores textos, sendo sua ordem de escrita indicada pelo ‘jogo da velha’ no título.

Com alguns textos mais intensos e outros mais econômicos, o que vale aqui é a leitura de André (um apaixonado conhecedor do tema), em tom pessoal, resgatando uma cinematografia maravilhosa – incluindo curiosidades sobre as produções – que, no passado, encantou os hoje cinquentões e, certamente, encantará aqueles jovens que terão a felicidade de descobri-la.     

 Luiz Joaquim, editor do CinemaEscrito.

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A Última Investigação (The Late Show, 1977), por André Pinto

O filme foi, durante anos, um projeto de dois Bobs: Robert Altman e Robert Benton. Benton tinha um argumento que retomava o tema de velhos filmes noir, agora trazidos para a desilusão americana dos anos 1970. Curiosamente o gênero foi explorado várias vezes por outros diretores no mesmo período, inclusive por Altman em Um longo adeus.

Art Carney e Lily Tomlin

Quando Benton apresentou finalmente um roteiro mais elaborado da trama, convidou  Altman para dirigir o material. Até Lily Tomlin, presença quase autoral de outros filmes do diretor já preparava sua participação. Entretanto Altman acertou que iria atuar como produtor, deixando a direção para o próprio Benton.

A história se inicia quando Ira Wells (Art Carney), um rabugento investigador particular, recebe a visita repentina de um velho amigo que acaba de sofrer um atentado. Ira, revoltado, sai de seu retiro em busca do assassino. No meio do caminho, é interpelado por uma possível cliente, Margo (Lily Tomlin), que precisa de seus serviços para achar um gatinho de estimação que foi sequestrado.

Em princípio Ira acha o convite absurdo e humilhante, mas quando percebe que existe uma conexão entre o sequestro do animal e a morte do amigo, parte pra investigação. O que se segue é um misto de policial com comédia, usando os ingredientes do noir clássico: detetives durões, mulheres fatais, e um elenco de personagens pouco confiáveis.

A dinâmica entre Carney e Tomlin é perfeita. Margo é a personagem energética e iluminada que faz o decadente Ira buscar sua força perdida e participar da aventura. Curioso como Tomlin por diversas vezes atropela a fala dos outros atores, o que intensifica ainda mais a vivacidade da personagem. O tom irritadiço de Carney é outro destaque. O personagem, mesmo enfrentando a lentidão da idade, vai ganhando força.

Ele insiste em trabalhar sozinho, mas esse isolamento entra em confronto com a sociabilidade de Margo. No fim do filme, um dos dois irá vencer o conflito, e a maneira maravilhosa em que é mostrada essa vitória, oferecendo segundos de suspense, é perfeita.

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