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Críticas

Águas Negras

Walter Salles em “norte-americanês” e com sotaque carregado.

Por Luiz Joaquim | 10.07.2018 (terça-feira)

– publicado originalmente no jornal Folha de Pernambuco em 12 de agosto de 2005

Chega aos cinemas um curioso filme norte-americano com roteiro adaptado de um filme japonês e dirigido por um cineasta brasileiro.  Águas negras (Dark Water, EUA, 2005) registra em seu crédito a direção de Walter Salles, mas é difícil enxergar nesta obra algum resquício da mesma personalidade que esteve a frente de projetos mundialmente aclamados como Terra estrangeira, O primeiro dia, Central do Brasil e Diários de motocicleta.

Águas negras traz um elenco extra qualificado (Jennifer Connelly, John C. Reilly, Tim Roth e Pete Postlethwaite) para compor uma trama que até propõe uma sofisticação psicológica dentro do gênero “J-horror” (representados por filmes como O chamado,  O grito e Visões 2), mas parece perder a estribeira exatamente no compromisso que tem com um grande estúdio (Touchstone Pictures) para chegar às salas de cinema com cara de superprodução de terror. Ou seja, uma máquina de susto.

Águas negras poderia funcionar melhor se aceitasse sua vocação de thriller psicológico de baixo orçamento (como um O inquilo ou Repulsa ao sexo, de Polanski) e menos como dispendioso thriller sobrenatural (como Os outros, de Amenábar). Pode-se dizer, inclusive, que se há qualidades neste filme de Salles, elas estão na contenção do uso que faz das fórmulas engessadas pela cartilha de Hollywood para fazer a platéia pular de susto.

Quando Salles coloca em primeiro plano aqui a angústia da mãe recém-desquitada (Connelly) e põe em dúvida sua sanidade e competência para criar uma menininha que possui uma “amiga imaginária” no decadente apartamento para onde as duas mudaram, o filme ganha crédito com o público que se angustia junto com Connely (em boa atuação). Já quando tenta vincular a anormalidade da residência com a imagem de uma segunda menina, que pode ou não ser um fantasma, o filme da um passo para trás.

Nesse sentido, o filme de Salles remete ao recente e medíocre Amigo oculto (“Seek and Hide”, 2005), com Roberto DeNiro vivendo o pai de Dakota Fanning (de Guerra dos mundos), uma garota que também possui um “amigo imaginário” quando muda para uma nova casa. O filme de Salles não é medíocre, muito pelo contrário, mas soa velho e quase sem viço, apesar do ótimo elenco e da superior presença de Tim Roth como um simpático e confiável advogado.

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