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Críticas

Está Tudo Bem

Vontade de morrer requentada.

Por Luiz Joaquim | 30.05.2022 (segunda-feira)

Eutanásia e morte assistida são temas que já foram bem explorados pelo cinema, mas Está tudo bem (Tout S’est bien passé, Fra., 2021), filme de François Ozon que estreia nesta quinta-feira (2/6) nos cinemas, busca trazer novas cores para o assunto.

Na verdade, o fato d’o tema já ter sido bem explorado não é problema. O problema começa quando se sabe que o mais novo filme sobre ao assunto, apesar da pretensão, não pisa forte na questão.

Se antes de ver Está tudo bem o espectador tiver passado por Mar adentro (2004), de Alejandro Amenábar, ou Uma primavera com minha mãe (2012), de Stéphane Brizé, – só para ficar em dois trabalho e não colocar no pacote o polêmico Amor (2012), do Haneke –, esse mesmo espectador poderá encarar o novo Ozon até com uma certa impaciência.

Não que Está tudo bem não ofereça uma perspectiva interessante. Afinal, o filme parece mais interessado em se concentrar em como a filha Emmanuèle (Sophie Marceau) reage ao pedido do pai André (André Dussollier), de 85 anos, que, após sofrer um Acidente Vascular Cerebral, lhe solicita que o ajude a antecipar a morte.

Essa mesma perspectiva, a do filho que tem de atender um pedido tão cruel, já foi (bem) colocada no filme de Brizé dez anos antes, com, no caso, Vincent Lindon na pele do filho que descobre a mãe deprimida com um tumor cerebral.

Impossível não relacionar os dois filmes pela proximidade dramática. O que os separa é a dramaturgia. Uma primavera com minha mãe parece mais francês (se é que isso pode ser dito) do que Está tudo bem.

Enquanto o primeiro é seco na narrativa, com o personagem de Lindon impávido diante do desafio funesto, Ozon pede a Marceau envolvimentos primários (no bom sentido), dentro de tudo o que uma filha poderia demonstrar de sofrimento com o mesmo desafio funesto, ajudar o pai a se matar.

Marceau, Géraldine Pailhas e Dussollier em “Está Tudo Bem”

É claro que a forma possível e indolor para pôr em prática o desejo do idoso está ali ao lado, na Suíça (um caminho também percorrido pelos personagens de Uma primavera com minha mãe), onde a morte assistida é permitida por lei.

Ozon, numa inconstância de gêneros ou de foco, chega a se aproximar até do humor no seu enredo, como quando surgem complicações para a transferência do idoso para a Suíça. Seria uma forma de relativizar a dor da morte ou da perda de um ente querido? Seja como for, destoa de uma maneira que desequilibra o tom grave e primeiro do enredo: a decisão pela própria morte, com ela sendo preparada pela sua própria filha.

Conflitos familiares, como o da participação de luxo e mal aproveitada da grande Charlotte Rampling como a ex-esposa do personagem de Dussollier, parecem querer dar massa ao corpo e a alma dos personagens principais, mas que acabam por soar desbotados, gerando pouca ou quase nenhuma empatia para com eles.

Salva-se Dussollier, cumprindo bem o papel que lhe dão, atuando com um meio rosto deformado pelo AVC e fazendo do seu idoso uma figura curiosa em sua determinação.

 Está tudo bem integrou a lista competitiva do 74º Festival de Cannes, em 2021.

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